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terça-feira, junho 01, 2004

Princesas de Portugal, rainhas da Dinamarca 

Duas das rainhas da Dinamarca foram portuguesas. A primeira chamava-se Berengária (o nome pode parecer estranho nos dias que correm, mas era bastante comum na Idade Média) e era filha do segundo rei de Portugal, D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão.

Berengária nasceu por volta do ano de 1195. Era a 11ª filha dos reis. O trono de Portugal estava assegurado, por isso restava tratar das alianças políticas que os casamentos consagravam da maneira mais eficaz e durável.

Durante a época medieval, feliz era o homem que tinha farta descendência, independentemente da posição social. Os mais pobres tinham mais bocas para alimentar, é certo, mas tinham também mais braços para o trabalho dos campos ou dos ofícios e tímidas indústrias, a maioria de cariz familiar, que iam despontando nos lugares onde a guerra não era tão presente e os recursos naturais ajudavam. O homem medieval era totalmente dependente da natureza, é preciso não esquecer. Estava à mercê dos elementos, daí o número de pessoas que pudessem contribuir para a empresa familiar ser factor essenial para a sobrevivência de todos. Mas adiante.

Para os nobres, não era tanto o número de braços para a lida que contava. A sua lavoura era outra, de natureza política. Na Europa começava a assentar a poeira levantada pelos reinos bárbaros que se foram alegremente conquistando, anexando e chacinando até que um novo usurpador, mais poderoso surgiu no horizonte e obrigou os reinos cristãos a unirem forças em nome da sobrevivência comum. A luta contra os mouros era agora a prioridade mas, não esquecendo disputas ainda recentes, era fundamental para os recém-nascidos reinos europeus estabelecerem acordos de ajuda e cooperação. Estes acordos eram sacramentados, sempre que possível através do casamento que, apesar de apenas válido quando celebrado por um membro da Igreja, assumia claramente e antes de qualquer outra coisa, a forma de contrato.

Para os noivos, o amor não fazia parte da equação. Um casamento deveria unir duas famílias ou dois reinos, ser abundante em termos de descendência e durar até à morte de um dos cônjuges. A satisfação pessoal, a escolha, a vontade não eram tidas em conta. Neste aspecto, é de crer que as classes mais baixas da sociedade fossem mais felizes pois o dever não se lhes impunha desta forma.

Assim, ricos e pobres acabavam por ser objecto do interesse familiar, sendo as suas vidas usadas da maneira que melhor conviesse. A Berengária coube-lhe em sorte consumar a aliança entre Portugal e Dinamarca, através do casamento com o rei Valdemar II, conhecido como O Vitorioso.

E assim partiu de Portugal, onde nunca mais voltaria. Tinha cerca de 19 anos e nunca tinha deixado o paço. Partia para um país distante, frio, tão diferente de Portugal, para casar com um homem mais velho (Valdemar tinha cerca de 44 anos na altura), que não conhecia e de quem mal tinha ouvido falar.

O casamento aconteceu em em 1214. Berengária teve dois filhos e ambos foram reis da Dinamarca. Faleceu em 1221, mas marido sobreviveu-lhe e voltou a casar ainda mais uma vez (Berengária era a segunda mulher do rei).

Rainha da Dinamarca foi também a princesa D. Leonor, sobrinha de Berengária, porque filha do seu irmão que herdou o trono de Portugal, após a morte de D. Sancho, D. Afonso II (aliás, foi já este rei quem negociou o casamento da irmã com Valdemar II).

D. Leonor nasceu em 1211 e tornou-se rainha da Dinamarca em 1229, pelo seu casamento com Valdemar III, seu primo, filho de Berengária. Era a terceira filha dos reis, uma vez mais, a coroa estava bem assegurada por dois varões, Sancho e Afonso (era grande a criatividade da dinastia de Borgonha no que se refere aos nomes dos filhos...). Morreu depois de 1231.

Assim era a vida das mulheres nesta época. Curta, por norma, e decidida pelos homens. Mas, como sempre, houve excepções. Um dia destes falarei sobre algumas.


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