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quarta-feira, agosto 10, 2005

(Des)Construir a História 

?A História é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais."
(Pierre Nora)

Para quem gosta de História, a maior de todas as frustrações é saber, à partida, que se tem um ?puzzle? ao qual faltam peças. Por muito esforço que se ponha na montagem desse ?puzzle?, sem as (muitas ou poucas) peças que lhe faltam, nunca teremos um resultado final perfeito, uma total compreensão do que estamos a estudar.

A questão é: Será que é válido substituir essas peças pela nossa imaginação? Já houve um tempo (durante muito tempo) em que a História se fazia de mitos e lendas, do sonho e espírito dos homens que a contavam. E era o que tínhamos, era a base de onde partíamos para a compreensão do mundo. Desde o séc. XIX, com o advento do positivismo, que a preocupação com a verdade, com o relatar os factos de forma tão precisa quanto possível, vem crescendo acompanhada pelo desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia que nos vão ajudando a revelar detalhes preciosos sobre o nosso passado.

Mesmo assim, as peças em falta continuam a escapar-nos. Se não faltar mais nada, falta o termos estado lá, o testemunho directo. Nunca saberemos o que pensava Napoleão ou se Filipe II tinha mesmo tudo (menos um fecho-éclaire). Resta-nos aceitar as lacunas ou tentar preenchê-las com a nossa experiência, o nosso sentido das coisas, as nossas opiniões. Na verdade, tal como acontece com a Literatura e a Poesia, acredito que a História só tem a ganhar quando lhe acrescentamos um pouco de nós. É o presente ao encontro do passado que vai ganhando nova vida.

Tal como as pessoas que, enquanto são lembradas, nunca morrem na verdade, também a História é assim ? enquanto houver quem queira estudar, ler, aprender mais sobre o passado do mundo e dos homens e esteja disposto a colmatar as frechas com um pouco de sonho para que o conteúdo não se dilua no vazio, o passado continuará tão vivo e emocionante como quisermos que ele seja.

Daqui a mil anos, quando formos pouco mais do que poeira, quem nos quiser estudar terá pouca dificuldade em encontrar documentos, registos, provas irrefutáveis daquilo que fomos (isto é, se conseguirmos fazer com que a nossa tecnologia nos sobreviva e se ainda sobrar algum pó para nos enterrar?) A maior dificuldade desses futuros historiadores será compreender as nossas motivações, as razões que nos levaram e consumir-nos e a esgotar os recursos abundantes do mundo em que vivemos. Talvez a imaginação desses novos estudantes possa, então, dar-nos alguma razão para os nossos actos inconsequentes de hoje.

sexta-feira, agosto 05, 2005

(...) 

Parei de escrever neste Livro há muito tempo. Parei porque às vezes há dores tão grandes, que nos adormecem os sentimentos e as vontades, as coisas deixam de fazer sentido, os sabores tornam-se amargos e as cores ficam tristes. Fiquei dormente, apática, tive a necessidade de sacrificar bocados de mim, um pouco como quem se provoca uma dor para desviar a atenção de outra dor maior.

Hoje volto a escrever neste Livro.


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